Pão de Carne...
Os brasileiros de origem germânica mantêm até hoje o hábito de "jantar pão", em oposição ao "jantar comida" de outras culturas nacionais. Saboreiam esse alimento com geléias doces pela manhã. Recorrem a ele para acompanhar o almoço. À noite, comem pão com frios. É nessa hora que entra em cena o pão de carne, para aumentar as opções do lado carnívoro dos frios, contrapondo-os (e completando-os) com os queijos e eventualmente as conservas de vegetais.Contudo, confirmando a discrição típica dos imigrantes pioneiros, o pão de carne tem-se mantido quase em segredo, conhecido praticamente pelos habitantes de Nova Würtemberg, que na Segunda Guerra Mundial teve o nome mudado para Panambi, no centro-norte do Rio Grande do Sul, 380 quilômetros a noroeste de Porto Alegre. Com sobrevida semelhante ao presunto, rosbife e assemelhados, o pão de carne pode ser adquirido pré-fatiado ou inteiro e deve ser cortado como se fosse um filão de pão caseiro (com fatias não tão finas quanto o presunto, de cerca de 1 a 2 milímetros de espessura).Sua consistência macia, devido à porosidade, e a "casca", embora mais fina, efetivamente o aproximam do pão caseiro. O sabor se apresenta mais suave que o presunto, sem denunciar nenhum processo - nem de defumação nem do forno de assar. É um gosto decididamente leve, tal qual a cor rosada de suas fatias. Hoje, o pão de carne se tornou exclusivo da Cooperativa Tritícola de Panambi, a Cotripal. A receita não é de simples execução. O segredo está no emprego do cutter, a máquina de fragmentar e bater carne, responsável pela textura agradável da iguaria, como explica o presidente da empresa, Gerardo Strobel.Panambi obteve a receita da região alemã da Westfália (próximo de Colônia e Dusseldorf). Foi trazida pelo imigrante Franz Hemesath, por volta de 1934. Ele começou a prepará-la no Frigorífico Hemesath, que fundou no Brasil. Produziu o pão de carne até falecer, em 1975. A receita ficou com as herdeiras, o frigorífico foi desativado e o segredo do pão de carne foi adquirido por um açougueiro local. Por volta de 1980, passou à propriedade da Cotripal.Os ingredientes e as proporções utilizados na confecção do pão de carne são estes: 2/3 de carne bovina de primeira, 1/3 de toucinho de lombo de porco (ambos moídos), sal, 5% de fécula de mandioca, alho, cebola, salsa, cebolinha e pimenta. O cutter se encarrega de transformar tudo em massa semelhante à de pão, que é posta em fôrmas e levada ao forno. O resultado encanta não só os moradores de Panambi - onde também são famosos o käsekuchen, espécie de torta de ricotta adocicada, e o salzbretzel, uma rosca de sal, típicos da região -, como os poucos e afortunados gastrônomos de outras cidades do país que já descobriram a especialidade.
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